Aprisionada sexualmente em uma relação falida





Ela não gostava de rotina. O cotidiano a deixava mal. Desmotivada. Queria viajar o mundo e fazer mil coisas, mas nos últimos tempos via-se aprisionada em um relacionamento desgastante e egoísta. Muito embora deixasse isso claro para o seu parceiro, ele entendia que não ter rotina significava apenas procurar por sexo, dia sim, dia não. E assim o fazia. Melosamente insistia nos excessos. Tentava de tudo, meio sem jeito, forçado, às vezes agressivo demais, como se tivesse pagado por aquilo e dessa forma tivesse o direito de fazer o que quiser da forma mais desesperada possível.

Os rituais monótonos tornaram-se constrangedores. Todos os dias era um pesadelo que começava logo cedo pela manhã quando ela, ao olhar para o rosto dele, lia a frase em sua testa: “hoje tem!”. Sentia pânico. Durante o dia inteiro não conseguia pensar em outra coisa senão em como seria quando chegasse a sua casa, e mais uma vez tivesse que se transformar na melhor das atrizes. Se bem que nem precisava encenar tão bem assim, ele acreditava em tudo. Não conseguia enxergar nada além das suas próprias vontades.

O sexo com ele parecia a coisa mais chata do mundo, menos para ele, é claro, que achava ser profissional no assunto. Mas para ela não. Não aguentava mais seguir rituais egoístas que visavam apenas o prazer dele, só dele. Ela trabalhava, estudava, e achava que não era pedir demais um pouco de compreensão antes de satisfazê-lo quando estivesse em casa. Mas ele, na fantasia de achar que sempre estava tudo bem, ignorava todos os sinais que ela enviava. Olhares, desculpas de dor de cabeça, irritações falsas e verdadeiras. Nada disso funcionava. Ele vivia em seu mundo egoísta de busca de poder para dominar o que já se entregou a ele por vontade própria.

Ela vivia cada vez mais lá fora. E não é que sexo fosse a única coisa importante em um relacionamento. É que com ele só havia o desejo dele, a satisfação dele, a vontade dele, a monotonia cada vez mais sistemática dele. Ela precisava se afastar de tudo isso antes que caísse em um abismo sem fim. Achou que seria cúmplice de uma vida prazerosa onde a “não rotina” e a empatia impulsionariam seus lampejos de alegria, mas todos os seus sonhos viraram pesadelos. Criou exacerbadas expectativas românticas, e se jogou nelas cedo demais. Impulsivamente cedo demais.

Demorou um bom tempo para que ele entendesse os sinais.

Agora já era tarde demais.

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