Quando (alguém da) minha família é o meu problema




“Tem como não se sentir bem com a própria família? Tem, e embora todo mundo pareça ter uma que seja perfeita, comigo nunca foi assim. Sempre olhei para as outras famílias como um exemplo do que eu queria ter em casa, e isso era assustador. Minha mãe era extremamente controladora, meu pai totalmente ausente, mesmo nos momentos em que estava presente. Cresci assim, entre manipulações ardilosas da minha própria mãe e com a ausência de um pai “presente” que vez ou outra tinha mais contato com as bebidas alcoólicas do que comigo mesma.”

O texto acima é um relato real que trata de um assunto polêmico e que muitas vezes fica guardado dentro das pessoas que vivenciam conflitos familiares.

Relacionamento familiar é apenas mais uma espécie do gênero relacionamento humano, ou seja, um subgrupo de um grupo maior. O que quero dizer é que a mesma lógica básica que é utilizada para qualquer tipo de relacionamento também se aplica ao convívio familiar. E que regra básica seria essa, Mion? Bom, sempre que houver interação humana precisa haver concessão. Para criarmos ligação entre pessoas, precisamos ceder e perceber que alguém cede por nós. Abro mão de alguns caprichos pessoais, e alguém abre mão de alguns caprichos pessoais por mim. Mas então por que para algumas pessoas é tão mais fácil se relacionar com amigos e parceiros amorosos do que com pessoas da própria família? A resposta tem boa chance de estar nas peculiaridades da relação familiar:

  1. A relação familiar é marcada por símbolos consolidados. São “papeis” que todo mundo conhece muito bem: mãe, pai, irmão, tios, primos, etc.... É como se fosse uma empresa com vários cargos. Quando o estagiário começa a confrontar o chefe a coisa desanda. Da mesma forma, quando o chefe quer controlar demais o “trabalho” dos empregados, toda a qualidade do serviço pode piorar. Na relação familiar é assim. Mãe e pai são autoridades que precisam ser respeitadas e possuem um papel fundamental na criação dos filhos. Quando os limites da razoabilidade começam a ser ultrapassados, então todo o convívio familiar começa a ser afetado. É a mãe que não gosta da filha mais velha e superprotege o filho mais novo. É o pai que é ausente e quer controlar tudo dentro de casa de forma abusiva. É a filha que trata mal a mãe por achar que não recebe tudo o que merece.
  2. Em um ambiente familiar a interação é contínua e prolonga-se por várias etapas da vida e do cotidiano. Os integrantes de uma família estão presentes em vários dos momentos que você esconderia do resto da humanidade. Eles sabem da rotina de cada um, sabem dos medos, dos vícios e manias, sabem das brincadeiras que cada um gosta e não gosta. Sabem até quanto tempo você demora dentro do banheiro fazendo suas necessidades básicas. E não é porque não enxeridos, é porque o convívio é íntimo, próximo e contínuo. Dessa forma, é muito mais fácil agradar e desagradar. Em uma discussão, por exemplo, palavras certeiras que machucam podem vir à tona e perfurar o ego como se fosse uma faca bem afiada. A questão é que a maior parte das pessoas as quais você vai se relacionar terá contato com você apenas em momentos bons ou em que você esteja emocionalmente equilibrado. Dentro da relação familiar é um pouco diferente.
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Tendo em mente que essas 2 peculiaridades da relação familiar podem afetar todo o convívio entre os integrantes da família, inclusive, polarizar intrigas entre pessoas específicas, seria interessante que você refletisse sobre os seguintes pontos:

1. Em uma relação familiar você precisa ser mais paciente e tolerante com a pessoa que você está um problema do que em qualquer outro tipo de relacionamento.

Verifique sempre se a pessoa não está apenas tentando ocupar o seu espaço dentro da hierarquia familiar. Irmão mais velho, pai, mãe, avós, parentes mais próximos. Tudo isso precisa sempre ser percebido e tolerado na medida do possível.

Ponto crítico: Quando um integrante da família ultrapassa os limites do bom senso e passa a perseguir, atacar, fazer bullying então dificilmente a tolerância apenas resolverá o problema. Nesses casos, tente primeiro o diálogo, e quando este se torna inviável, o afastamento ou diminuição de contato é o melhor remédio. 

2. Em uma relação familiar “julgamentos” nem sempre são para atacar.

Às vezes a pessoa está apenas tentando “cuidar” e “orientar” como se estivesse defendendo um clã. É como, por exemplo, todo mundo da família torce para um time e você não. Piadas, brincadeiras e “julgamentos” de que você fez uma péssima escolha surgirão a todo momento, mas isso nem sempre terá conotação de ataque. Como dito acima, em um relacionamento familiar as pessoas acabam se descuidando e utilizando a intimidade que possuem para expor seus pensamentos mais cruéis, mas por incrível que pareça isso nem sempre indica que a pessoa tem intenção de ferir você. Mais uma vez o ideal é ser mais tolerante do que o normal.

Ponto crítico: Quando tudo começa a fugir do controle e você percebe que há um direcionamento calculado desses “julgamentos” por parte de determinada pessoa então mais uma vez a diminuição de contato, temporária ou não, pode ser o melhor caminho antes que tudo piore.  

3. Seja compreensivo

Em um ambiente onde as intimidades estão expostas, todos podem se sentir frágeis em algum momento. É como um cão que não deixa ninguém se aproximar. Pode ser medo de ser ferido. Pode ser que seu parente precise de mais ajuda do que você, por mais que ele pareça não se arrepender de algo que fez ou disse.

Ponto crítico: Se você tentar conversar, ajudar e ainda assim a pessoa se mostrar inflexível, talvez seja momento de sugerir que outra pessoa converse com seu parente e ofereça ajuda. 

4. Amizade em primeiro lugar

É muito comum que em um ambiente familiar haja mais cobranças de afeto e atenção. Como já mencionei anteriormente, dentro da nossa família as pessoas tendem a demonstrar mais suas fraquezas e insatisfações, sendo assim, pense sempre que antes de ter um pai, uma mãe, um irmão, você tem um amigo que precisa sempre de carinho, respeito e atenção.

Ponto crítico: Quando as exigências de atenção e afeto tornam-se excessivas, é possível que essa pessoa precise de alguma ajuda profissional para superar tais carências.

5. Pai e mãe são autoridades, quer você queira, quer não

“Você diz que seus pais não te entendem, mas você não entende os seus pais”. Hierarquia familiar é algo biológico e inerente a condição humana. Não é algo criado pela sociedade, partido político ou viés filosófico. Por mais tolerantes e passivos que sejam os seus pais, com toda a certeza do mundo eles vão gostar de saber que você os respeita, os obedece e os valoriza. Muitas das desavenças familiares acontecem por causa do desrespeito ou rebeldia. De um certo ponto de vista pode parecer apenas um capricho, mas pense que um dia você poderá ser pai ou mãe, e perceberá que para orientar e cuidar dos seus filhos, você precisará exercer algum comando.

Ponto crítico: Quando essa autoridade ultrapassa o bom senso e passa coibir, denegrir, difamar, proibir práticas básicas e necessárias, então algo está muito errado.

Entre os integrantes de uma família, principalmente na relação pais e filhos, as expectativas são sempre as maiores. E esse é um dos motivos pelo qual resolvi escrever esse artigo. Ninguém espera que uma mãe ou pai seja ruim com um filho e vice-versa, não é verdade? Dizemos que não é assim que deveria ser em uma família. A verdade é que toda relação tem seus conflitos e quanto mais você conseguir relevas as coisas, mais saudável será o convívio. É importante ressaltar que em muitos casos há abuso, excessos inaceitáveis e inclusive casos de violência física, sexual e psicológica. Nessas situações o distanciamento entre agredido e agressor é muito importante pelo menos em um primeiro momento. Além do mais, qualquer tipo de ajuda se faz necessária, em especial a psicológica. Não aceite qualquer tipo de violência. Denuncie e procure ajuda!

P.S.: Leia meus outros artigos e me adicione nas redes sociais.

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