Se você ainda não leu a prima parte, leia aqui: O que faltava em mim (Primeira parte)
Tomei banho, arrumei o cabelo, me vesti como quem maquia o rosto na tentativa de esconder as imperfeições que ninguém mais vê. Aproveitei o frio e a chuva que começava lá fora para usar algo confortável e acolhedor. Não sei o por quê, mas esse pequeno cuidado comigo mesma me fazia tão bem. Estava preparada para passar o dia inteiro em casa vendo algum filme ou série clichê, mas eventos caóticos sempre acontecem na minha vida.
Tomei banho, arrumei o cabelo, me vesti como quem maquia o rosto na tentativa de esconder as imperfeições que ninguém mais vê. Aproveitei o frio e a chuva que começava lá fora para usar algo confortável e acolhedor. Não sei o por quê, mas esse pequeno cuidado comigo mesma me fazia tão bem. Estava preparada para passar o dia inteiro em casa vendo algum filme ou série clichê, mas eventos caóticos sempre acontecem na minha vida.
O telefone tocou, mas não era uma ligação. Havia muito tempo que não recebia ligações telefônicas. Foi apenas uma notificação de mensagem no Whatsapp. Era minha amiga. Minha melhor amiga. Estava preocupada comigo e queria que eu saísse um pouco de casa. Haveria uma festa e queria que eu fosse com ela. Na verdade, era uma via de mão dupla. Ela queria que eu fosse para ela não ir sozinha, e de certa forma isso poderia me ajudar, talvez. Quase sem querer, acabei aceitando o convite. Será que era isso que faltava em mim? A sensação de carência que eu sentia poderia finalmente ter um fim. O que eu iria perder?
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Imaginando então que eu não perderia nada, comecei a produção. Precisava esconder aquela cara de zumbi deprimido e colocar a mulher poderosa para aparecer. Não sei porque, mas de tudo que eu não gostava no meu corpo, a pior coisa era sensação de que ele nunca estava estável. É como se eu medisse minha autoestima baseada no cabimento das minhas roupas. Se ficassem apertadas demais, me culparia por ter exagerado na comida ou ter tido uma TPM avassaladora, se ficassem folgadas demais, também me culparia, mas agora por possivelmente ter acontecido algo ruim para eu não ter cuidado de mim o suficiente, não ter me alimentado direito ou feito o que eu realmente gosto. De toda forma, meu sorriso surgia quando a roupa ficava na medida certa.
Tudo pronto, fomos à festa. Como de costume, já no meio do caminho eu começava a ter a certeza de que não deveria ter saído de casa. Todas as minhas inseguranças vinham à minha cabeça. Eu queria voltar, mas já estava ali. Não poderia estragar a empolgação da minha amiga. Chegamos. Gente. Muita gente! Já na entrada senti como se todos os olhos, principalmente os dos homens, estivessem focados em mim. É como se eu fosse a presa da vez. Eu não sabia se deveria me sentir desejada ou assediada. Beber para relaxar parecia ser a decisão mais sensata naquele instante. Impulsivamente, foi o que fizemos.
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O álcool baixava minha guarda, e isso pra mim significava que eu poderia fazer algo que me arrependeria depois. Na verdade, eu sempre me arrependia. Enquanto bebia perguntava a mim mesma, por que estou aqui? Por que estou bebendo? Mas o relaxamento vinha e o efeito desinibidor da bebida começava. Aqueles olhares violentos e intimidades do início da festa agora me pareciam mais normais. Eram os mesmos olhares, mas agora eu não conseguia pensar em julgamentos. Levemente embriagada, altamente tolerante. Tolerava mal hálito, abordagens ridículas, mãos bobas “sem querer”. Minha amiga dizia que eu ficava menos chata quando bebia, pra mim, eu ficava apenas menos controlada.
Minha amiga parecia estar realizada. Quando dois rapazes se aproximaram, não demorou muito, minha amiga estava aos beijos e amassos com um deles, e de repente eu me vi cara a cara com o amigo dele, ali, parado, como se dissesse, TEMOS que fazer a mesma coisa. Dentre mil coisas que eu pensei, o impulso foi mais forte e acabei aceitando a estratégia dele. Fiquei com o rapaz, não porque eu queria muito ficar, mas porque não resisti a ideia de ser inadequada e deixar o rapaz com cara de bobo na minha frente. O álcool estava perdendo o efeito ou era o que realmente faltava em mim? Beijei uma pessoa por sentir vergonha, por não querer parecer a estranha da festa. A que ponto eu cheguei!
Tudo mais o que aconteceria naquela noite seria apenas repetição do que descrevi acima, a todo instante alguém me abordava e um ciclo começava. Sei que tem gente que se sente bem assim, mas no meu caso, definitivamente não era o que eu gostava.
Eu só queria ir pra casa.
(continua...)
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